Perda de eficiência na produção de leite por presença de carrapatos

Elis Regina em sua música, “Como Nossos Pais”, disse: “nossos ídolos ainda são os mesmos, e as aparências não enganam não...”. E para produtores rurais, técnicos, faço uma pequena adaptação: “nossos vilões ainda são os mesmos...”. E por que digo isso? O controle de carrapato ainda é um desafio nas fazendas leiteiras. A escolha pelo produto adequado e formas de controles eficazes, do ponto de vista técnico e financeiro, têm sido um grande problema.

O uso de carrapaticidas é uma das estratégias mais comuns e eficazes para combater infestações de carrapatos. Esses produtos químicos podem ser aplicados de diversas maneiras, incluindo pulverizações, banhos, aplicações tópicas pour-on e injetáveis. Além dos carrapaticidas, outras formas de controle de carrapatos incluem práticas de manejo integrado, como a rotação de pastagens, a utilização de animais resistentes a carrapatos, a manutenção da higiene do ambiente e o uso de armadilhas. No entanto, é importante notar que a utilização frequente e descontrolada desses produtos pode levar à seleção de carrapatos resistentes, reduzindo assim a eficácia desses produtos ao longo do tempo.

No mercado atual, encontramos diversos produtos para serem usados contra o principal carrapato dos bovinos (Rhipicephalus (Boophilus) microplus), cada um com um valor diferente, o que pode levar os produtores a cometerem o erro de não optar pelo produto mais adequado para sua propriedade. É essencial considerar a eficiência e o custo-benefício ao escolher um carrapaticida. Produtos mais baratos podem parecer economicamente vantajosos inicialmente, mas se não forem eficazes, podem resultar em infestações persistentes e maiores gastos a longo prazo. Por outro lado, produtos de maior custo, mas com comprovada eficiência, podem proporcionar um controle mais duradouro e efetivo, resultando em economia de recursos e melhor saúde animal ao longo do tempo. Portanto, a escolha do produto deve ser baseada em sua eficácia comprovada e na análise de seu custo-benefício, garantindo o melhor resultado para a propriedade.

Os carrapatos causam sérios prejuízos ao rebanho leiteiro, impactando diretamente a saúde e a produtividade dos animais. A infestação por carrapatos pode levar a perda de peso nos bovinos, devido ao estresse e ao consumo de sangue pelos parasitas, comprometendo a condição corporal dos animais. Além disso, a produção de leite é significativamente afetada, pois o desconforto e a irritação causados pelos carrapatos reduzem a ingestão de alimentos e o bem-estar das vacas, resultando em menor volume e qualidade do leite produzido. Esses parasitas também podem transmitir patógenos causadores de doenças, como a babesiose e a anaplasmose, que agravam ainda mais a situação, podendo levar a custos adicionais com tratamentos veterinários e, em casos extremos, à morte dos animais.

Realizamos um levantamento de custos referentes aos gastos com carrapaticida e mão de obra para a realização do manejo contra o carrapato em uma fazenda assistida pelo Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL) de Viçosa. A propriedade utiliza mensalmente um produto de uso tópico, cuja base é uma combinação de cipermetrina e clorpirifós, pertencentes às classes dos piretróides e organofosforados, respectivamente. Essa combinação atua rapidamente no sistema nervoso dos carrapatos, resultando em paralisia e morte dos parasitas. Além disso, a cada dois meses ainda faz uso de um produto à base de fluazuron e fipronil, utilizado em banhos.

Com base nos dados gerados no período de Junho/2023 e Maio/2024 conseguimos calcular os gastos totais dessa fazenda assistida.

A fazenda é composta por 98 vacas totais e 130 novilhas (o rebanho está em expansão, com muitas novilhas devido à utilização de FIV). Dessas 98 vacas, apenas 40 rodam no pasto (as demais são confinadas), sendo assim os gastos totais foram com base em 170 animais do rebanho, chegando em um gasto anual com carrapaticida de R$ 18.631,89, levando em consideração o gasto com medicamento e mão de obra necessária para aplicação (estes dados foram dados realizados a partir do controle das despesas da fazenda nesse período).

Segundo Jonsson et al. 1998, cada teleógina leva a perda de 8,9 ml de leite por animal por dia e 1g a menos no ganho de peso por cabeça por dia. Sendo assim, a cada 20 carrapatos adultos em uma vaca em lactação, temos uma redução de aproximadamente 178 ml de sua produção diária e no caso das novilhas uma redução de 20g/dia no ganho de peso. Transformando para reais, considerando o preço de leite a R$ 2,50 o produtor vai perder R$ 0,45/vaca/dia e R$ 137,25/vaca/ano (lactação de 305 dias). No caso dessa fazenda, considerando que apenas as 40 vacas do piquete possuem os parasitas, estamos estimando uma queda na receita de R$ 5.490,00/ano.

Já quando falamos em ganho de peso se tivermos uma redução de 20g/dia (0,6 Kg/animal/mês e 7,2 kg/animal/ano) considerando também 20 carrapatos por animal, o impacto direto na idade ao primeiro parto e primeira inseminação é enorme. Observando os números de ganho de peso dessa fazenda, teríamos o aumento de um mês na idade ao primeiro parto a cada três novilhas parindo. A lactação média das primíparas dessa fazenda está em torno de 6.600 L, portanto para cada novilha parida teríamos 550 L a menos ou R$ 1.375,00. Segundo a previsão de partos atual, parem 48 novilhas por ano, portanto, nessa simulação, essa fazenda estaria deixando de ganhar R$ 22.000,00 por ano. Todas as despesas e queda nas receitas dessa fazenda, obtidas pelo controle de fluxo de caixa da fazenda e a partir da estimativa de infestação, estão resumidas no gráfico 1.

Gráfico 1 — Simulação dos prejuízos causados por infestação de carrapatos nessa fazenda.

Analisando os dados apresentados chegamos aos seguintes números: o prejuízo anual com carrapatos nessa fazenda chega a R$ 46.121,89, equivalente a R$ 202,28 por animal, e este prejuízo pode ser ainda maior se a infestação for maior.

Para finalizar, a escolha adequada do produto carrapaticida deve levar em conta quatro fatores: eficiência, preço, carência e modo de aplicação, e esta é apenas uma etapa para o controle eficiente.