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Vale a pena investir em instalações melhores para as vacas em transição?

Saiba como carrapatos afetam a produção de leite e o ganho de peso nos bovinos, gerando prejuízos econômicos significativos.
Todas às vezes que falo sobre bem-estar animal, seja em visitas a fazendas, palestras ou treinamentos, sempre destaco a importância de dar total atenção para as vacas no período de transição. Faço uma conta simples, mostrando que se considerarmos um intervalo entre partos médio de 13 meses, as 6-7 semanas da transição equivalem a menos de 15% do período total, mas são fundamentais para que as vacas possam ter saúde e ser eficientes e lucrativas. E inevitavelmente surgem os questionamentos sobre a viabilidade de investir na renovação das instalações para as vacas e novilhas nessa fase.
Um ótimo artigo publicado na edição de Julho da revista Dairy Herd Management joga luz sobre esse tema, refletindo sobre a viabilidade de tais investimentos. A transição do final da gestação para a lactação é um período de grande desafio fisiológico para as vacas leiteiras, e se não tiverem condições adequadas de conforto e alimentação, é muito grande a chance de terem problemas sérios de saúde, que comprometem duramente o desempenho produtivo e reprodutivo dos animais. Em função disso, as instalações para vacas no pré-parto e, idealmente, também no pós-parto imediato, têm um papel fundamental nesse processo.
Na maioria das fazendas brasileiras ainda há resistências em trabalhar com um lote específico de vacas recém-paridas. Entendo que há dificuldades operacionais, especialmente em rebanhos pequenos, mas isso faz com que muitas vacas enfrentem dificuldades que poderiam ser evitadas no pós-parto imediato, e isso certamente tem um preço a ser pago pelo produtor de leite.
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O que é indispensável para garantir a boa saúde e desempenho de vacas em transição?

Faça essa pergunta a qualquer mãe e ela lhe dirá que no final da gestação e no pós-parto, conforto e tranquilidade são fundamentais. Para as vacas é da mesma forma. Pensando em conforto, os itens mais importantes são:

  • Cama macia, seca e com espaço adequado;
  • Espaço suficiente em cocho;
  • Alívio do stress por calor.
Com relação à cama, as necessidades dos animais são idênticas às dos humanos. Ninguém gosta de deitar em cama úmida, nem as vacas. Há dados muito robustos na literatura científica mostrando que vacas leiteiras sempre vão escolher locais secos para deitar se tiverem essa opção. A experiência prática mostra a mesma coisa. Sobre maciez da cama, vale o mesmo conceito. Em termos de espaço, se estivermos falando de Free-Stalls, a recomendação é ter 1 cama por vaca no lote pré-parto, com tamanho adequado ao peso corporal dos animais. Para rebanhos HPB as camas precisam ter >2,80m de comprimento (incluindo espaço para projeção frontal de cabeça) e pelo menos 1,27m de largura, para rebanhos Jersey as camas podem ser menores. No caso de Compost Barns, para vacas em pré-parto o ideal é manter >12m2 por vaca HPB e >10m2 por vaca Jersey.
Já está muito bem estabelecido pela ciência que quanto mais tempo as vacas passam deitadas, descansando, maior será a sua ingestão de alimentos e melhor sua saúde. Pouco tempo de descanso de vacas no pré-parto está relacionado com maior ocorrência de partos distócicos e natimortos. Para vacas em lactação, mais tempo de descanso significa mais leite. Para cada hora a mais que uma vaca passa deitada permite que ela produza até 1,5kg de leite a mais. Ou seja, mais descanso significa menos problemas no parto, mais bezerros e mais leite para vacas em transição!
Espaço de cocho é outro ponto de grande atenção, especialmente quando nos lotes de pré e pós-parto há primíparas e multíparas juntas. Para garantir que a competição no cocho será mínima, a recomendação é manter >90cm/cabeça no pré e acima de >75cm no pós-parto. Se o espaço na linha de cocho for apertado, os animais mais tímidos e menores, principalmente novilhas e primíparas, terão dificuldade para consumir o que precisam. E ingestão adequada de alimentos é um dos pontos mais importantes para que animais em desafio possam ter boa saúde e desempenho.
Falta de espaço no cocho tem relação direta com aumento na ocorrência de doenças e distúrbios metabólicos pós-parto, como cetose, hipocalcemia, deslocamento de abomaso etc., e esses problemas resultam em menor produção de leite, reprodução pior e maior risco de descartes precoces no rebanho. E isso tudo custa muito dinheiro!!
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Como eu sempre digo, o stress por calor talvez seja o principal inimigo das fazendas leiteiras em nosso país. O impacto do calor sobre a saúde e desempenho de rebanhos leiteiros é devastador, como mostram de maneira muito clara e contundente diversos trabalhos de pesquisa recentes, e como podemos observar diariamente nas fazendas. É fundamental lembrar que animais ruminantes, como os bovinos leiteiros, produzem grande quantidade de calor metabólico interno, por conta dos processos fermentativos que acontecem dentro do rúmen. Isso faz com que esses animais sofram muito mais com o calor em relação a nós, humanos. Por isso não podemos assumir que só estará calor para as vacas e bezerras quando estiver calor para nós.
Para vacas em final de gestação, os efeitos do calor são ainda piores, pois além de prejudicarem a própria vaca, que produzirá 10-15% menos na lactação seguinte, vão afetar negativa e permanentemente as suas crias. Bezerras que passam por stress por calor dentro do útero de suas mães na fase final da gestação nascem mais leves, apresentam menor ganho de peso, desmamam mais leves e produzirão menos leite de que poderiam por toda a sua vida adulta. Ou seja, um desastre, sob todos os aspectos, principalmente financeiro. Se houver interesse em mais informações sobre essa questão, sugiro a leitura dos excelentes artigos de Fabris et al. (2019) e Laporta et al. (2020).
Pelo destacado até aqui acredito que seja fácil responder à pergunta do título deste artigo. Pelos meus mais de 25 anos de experiência na pecuária leiteira, não tenho a menor dúvida que investir em melhores instalações, proporcionando mais conforto e bem-estar para as vacas em pré e pós-parto, é um dos melhores investimentos que se pode fazer numa fazenda. Num primeiro momento o custo de reformar um barracão ou construir um novo para abrigar vacas secas pode parecer muito pesado, mas quando de considera os enormes benefícios a conta fica bastante favorável. E olhando para a realidade de muitas fazendas que visito, muitas vezes o que falta são coisas relativamente simples, como melhorar a ventilação ou a rotina de manejo das camas. Deixar vacas em final de gestação sem ventilação e/ou com camas ruins deveria ser considerado “crime hediondo”!
O retorno sobre o investimento feito nas instalações para vacas em transição (entenda-se melhorar o seu conforto) é multifatorial, vem da maior produção de leite, melhor fertilidade, bezerras mais saudáveis, produtivas e longevas, etc. Obviamente deve-se fazer um bom planejamento para os investimentos, mas se esses forem bem feitos o retorno é garantido!
Alexandre M. Pedroso