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Semiárido Mineiro: Desafios enfrentados no aumento da produção de leite

Descubra como a Embrapa enfrenta os desafios da produção de leite no semiárido mineiro e como a tecnologia pode transformar a vida dos produtores locais.
Considerada como a região socioeconômica mais vulnerável do estado de Minas Gerais, o semiárido mineiro integra o semiárido brasileiro, o qual é conhecido como um dos maiores e mais populosos do mundo, com aproximadamente 22 milhões de pessoas. Localizado no bioma caatinga ao norte do estado de Minas Gerais, estima-se que aproximadamente 3,5 milhões de pessoas habitam essa árida região, caracterizada por apresentar baixa precipitação pluviométrica e uma distribuição irregular de chuvas, com índices anuais inferiores a 800mm que desafiam a produção de alimentos para seres humanos e animais.
A baixa renda per capita e acesso a recursos dificultam a adoção de tecnologias modernas, as quais favorecem a obtenção de sistemas de produção mais eficientes e rentáveis. Além disto, contribui para que a maioria dos produtores opte por uma produção de subsistência, voltada ao consumo familiar, ou mesmo busquem agregar um valor de mercado para sua produção, por meio de pequenas agroindústrias voltadas a produção de queijos e requeijões, principalmente.
A baixa fertilidade natural do solo, associada a estas condições pluviométricas, dificultam o desenvolvimento das cadeias produtivas do agronegócio na região, particularmente a do leite e derivados, que é de relevância para seu desenvolvimento socioeconômico e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes. Pequenos produtores de leite, caracterizados por possuírem propriedades inferiores a 50 ha, com rebanhos inferiores a 50 cabeças e baixa produtividade dos fatores de produção.
Embora a produção de leite seja de interesse dos produtores, em razão da sua capacidade de gerar uma renda mensal, de proporcionar uma reserva de valor e prover um alimento de alto valor nutritivo, nas condições atuais, observa-se que as características dos sistemas de produção e das condições edafoclimáticas impõem desafios que podem levar o produtor a deixar a atividade.
Em resposta a este cenário desfavorável da produção de leite no semiárido mineiro, o projeto Tecnologias Agropecuárias para o Semiárido Mineiro, coordenado pela Embrapa, desenvolveu uma rede de parcerias, que envolve Anater, Emater-MG, Senar, Sebrae, Epamig, Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, sindicatos rurais e Nova Ambaj (Nova Associação dos Municípios da Microrregião do Baixo Jequitinhonha), para buscar alternativas para os produtores. Além de gerar tecnologias para o setor agropecuário da região, este projeto iniciado em 2018 objetiva leva-las ao produtor rural de baixa escolaridade e possam ser adotadas.
De acordo com a última pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em 2021, a Figura 1 mostra a evolução das variáveis de produção de leite, vacas ordenhadas e produtividade do rebanho leiteiro, alcançada pelo semiárido mineiro no período compreendido entre 2018 e 2021, que envolve a participação desta rede de empresas parceiras na região.
Mapa de evolução da produção de leite entre 2018 e 2021, para os municípios pertencentes ao semiárido mineiro. Fonte: IBGE.
Mapa de evolução do número de vacas ordenhadas entre 2018 e 2021, para os municípios do semiárido mineiro. Fonte: IBGE.
Mapa de evolução de produtividade do rebanho leiteiro, entre 2018 e 2021, dos municípios do semiárido mineiro. Fonte: IBGE.
Mapas de evolução da produção de leite, vacas ordenhadas e produtividade do rebanho leiteiro, no período compreendido entre 2018 e 2021, para os municípios pertencentes ao semiárido mineiro. Fonte: IBGE.
Neste mesmo período, no Brasil, a adoção de novas tecnologias tem subsidiado a tendência de aumento da escala de produção do leite, concomitante com uma redução do plantel de vacas em lactação e um aumento da produtividade dos fatores de produção nas propriedades. Embora essas tendências estejam ocasionando um menor impacto ambiental no país, torna-se necessário que as propriedades obtenham um aumento na produtividade do rebanho, acima da redução do número de vacas ordenhadas, para que esse aumento de eficiência dos sistemas de produção seja efetivo.
Para efeito de comparação desta tendência também na região do semiárido mineiro, a Tabela 1 informa o desempenho, em números, para os seus 91 municípios com relação as variáveis de produção de leite, vacas ordenhadas e produtividade do rebanho, para o período compreendido entre os anos de 2018 e 2021.
Variáveis Analisadas Municípios do Semiárido Mineiro Em Evolução Em Declínio
Nº de Municípios (%) Nº de Municípios (%)
Produção de Leite 83 91 8 9
Vacas Ordenhadas 70 77 21 23
Produtividade do Rebanho 76 84 15 16
Tabela de Municípios do Semiárido Mineiro que apresentaram evolução ou declínio com relação as variáveis de produção de leite, vacas ordenhadas e produtividade do rebanho, entre 2018 e 2021.
Observa-se um aumento da produção de leite e da produtividade do rebanho, respectivamente, em 91% e em 84% dos seus municípios, embora o número de vacas ordenhadas também tenha aumentado. Assim, a Tabela 1 permite deduzir a tendência geral da evolução na escala de produção, rebanho ordenhado e da produtividade, materializado pelo número de municípios que apresentam aumento ou retração nessas variáveis para o semiárido mineiro.
A baixa fertilidade natural do solo, associada a estas condições pluviométricas, dificultam o desenvolvimento das cadeias produtivas do agronegócio na região, particularmente a do leite e derivados, que é de relevância para seu desenvolvimento socioeconômico e melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes. Pequenos produtores de leite, caracterizados por possuírem propriedades inferiores a 50 ha, com rebanhos inferiores a 50 cabeças e baixa produtividade dos fatores de produção.

Walter Coelho Pereira de Magalhães Junior

Marcos Cicarini Hott

Ricardo Guimarães Andrade


Analista da Embrapa Gado de Leite

Pesquisador da Embrapa Gado de Leite